quarta-feira, novembro 25, 2009

Liberdade de imprensa

Para ler (e retirar conclusões) a seguinte entrevista a José António Saraiva (director do semanário Sol) ao Correio da Manhã (Teresa Oliveira), publicada em 22NOV2009, com sublinhados nossos:
Correio da Manhã:- O Sol foi coagido pelo Governo para não publicar notícias do Freeport?

José António Saraiva Recebemos dois telefonemas, por parte de pessoas próximas do primeiro-ministro, dizendo que se não publicássemos notícias sobre o Freeport os nossos problemas se resolviam.

Que problemas?
Estávamos em ruptura de tesouraria, e o BCP, que era nosso sócio, já tinha dito que não metia lá mais um tostão. Estávamos em risco de não pagar ordenados. Mas dissemos que não, e publicámos as notícias do Freeport. Efectivamente uma linha de crédito que tínhamos no BCP foi interrompida.

Depois houve mais alguma pressão política?
Sim. Entretanto tivemos propostas de investimentos angolanos, e quando tentámos que tudo se resolvesse, o BCP levantou problemas.

Travou o negócio?
Quando os angolanos fizeram uma proposta, dificultaram. Inclusive perguntaram o que é que nós quatro eu, José António Lima, Mário Ramirez e Vítor Rainho queríamos para deixar a direcção. E é quando a nossa advogada, Paula Teixeira da Cruz, ameaça fazer uma queixa à CMVM, porque achava que já havia uma pressão por parte do banco que era totalmente ilegítima.

E as pressões acabaram?
Não. Aí eles passaram a fazer pressão ao outro sócio, que era o José Paulo Fernandes. E ainda ao Joaquim Coimbra. Não falimos por um milagre. E, finalmente, quando os angolanos fizeram uma proposta irrecusável e encostaram o BCP à parede, eles desistiram.

Foi um processo longo...
Foi um processo que se prolongou por três ou quatro meses. O BCP, quase ironicamente, perguntava: "Então como é que tiveram dinheiro para pagar os salários?" Eles quase que tinham vontade que entrássemos em ruptura financeira. Na altura quem tinha o dossiê do Sol era o Armando Vara, e nós tínhamos a noção de que ele estava em contacto com o primeiro-ministro. Portanto, eram ordens directas.

Do primeiro-ministro?
Não temos dúvida. Aliás, neste processo Face Oculta deve haver conversas entre alguns dos nossos sócios, designadamente entre Joaquim Coimbra e Armando Vara.

Houve então uma tentativa de ataque à liberdade de imprensa?
Houve uma tentativa óbvia de estrangulamento financeiro. Repare-se que a Controlinveste tem uma grande dívida do BCP, e portanto aí o controlo é fácil. À TVI sabemos o que aconteceu e ao Diário Económico quando foi comprado pela Ongoing houve uma mudança de orientação. Há de facto uma estratégia do Governo no sentido de condicionar a informação. Já não é especulação, é puramente objectiva. E no processo Face Oculta , tanto quanto sabemos, as conversas entre o engº Sócrates e Vara são bastante elucidativas sobre disso.

Os partidos já reagiram e a ERC vai ter de se pronunciar. Qual é a sua posição?
Estou disponível para colaborar.

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